sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Magic Mantra-reverse negative to positive - Ek Ong Kar Satgur Pras (Ligh...

Morin - O futuro da humanidade


ENTREVISTA
O futuro da humanidade
Para o sociólogo e filósofo Edgar Morin, veterano da Resistência Francesa durante a Segunda Guerra, transformações invisíveis que acontecem neste momento em nossa sociedade escondem as sementes da construção do improvável. “Entre a desilusão e o encantamento existe uma via que é a da vontade e da esperança”, anuncia
por Silvio Caccia Bava
Edgar Morin, pseudônimo de Edgar Nahoum, nasceu em Paris, em 8 de julho de 1921. Fez seus estudos universitários em História, Sociologia, Economia e Filosofia. Licenciou-se em História, Geografia e Direito. Durante a Segunda Guerra Mundial, participou ativamente da Resistência Francesa. É diretor de pesquisa emérito do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS, na sigla em francês). Em 1991, tornou-se codiretor do Centro de Estudos Transdisciplinares de Sociologia, Antropologia e História (Cetsah) − tutelado pela Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais e pelo CNRS −, que em 2008 passou a se chamar Centro Edgar Morin. Doutor honoris causa por mais de trinta universidades e premiado internacionalmente, durante vinte anos Morin consagrou-se à pesquisa de um método apto a encarar o desafio da complexidade que se impõe na contemporaneidade não apenas ao conhecimento científico, mas também aos problemas humanos, sociais e políticos. Essa pesquisa culmina com a proposta de uma reforma do pensamento apresentada por meio de seus livros divididos em macrotemas. Com mais de 60 livros publicados, destacam-se O método, em seis volumes, Ciência com consciência,Introdução ao pensamento complexo e Os sete saberes necessários para uma educação do futuro.
LE MONDE DIPLOMATIQUE BRASIL– O senhor tem o costume de dizer que não sabe sobre o futuro. Mas, em um de seus diários, o senhor diz que está pessimista com o futuro, o futuro da humanidade, e que as probabilidades não são boas − por isso mesmo é necessário acreditar nas improbabilidades. Essa é uma questão muito importante, porque as improbabilidades acontecem em contextos históricos. Como nós pudemos ver na Primavera Árabe, as revoluções não conseguem garantir novos governos democráticos e populares. Para que surgissem governos democráticos e populares em alguns países da América Latina, movimentos sociais e redes de cidadania construídas ao longo de mais de trinta anos atuaram de maneira muito importante. Um mundo em transformação requer um projeto de transformação e uma rede de sustentação social e política desse projeto. E nós sabemos que o novo não nasce do nada, nasce de mudanças qualitativas, de saltos às vezes imprevisíveis que apontam um sentido comum, mas que partem da realidade atual. Isso também coloca a questão de um programa de transição. Mas, mais do que tudo, coloca a questão de quem serão esses novos atores que vão operar essas mudanças.
EDGAR MORIN – Em primeiro lugar, é preciso definir o que é probabilidade. Para um observador situado em um lugar e em um tempo dados, o conhecimento do processo histórico no qual se encontra é o que lhe permite projetar o futuro. Se hoje projetamos o futuro, o que vemos? Vemos a proliferação dos artefatos nucleares, a degradação da biosfera, uma economia cada vez mais em crise, o crescimento da desigualdade, toda uma série de desastres. Há também alguns processos positivos, mas eles permanecem invisíveis ou são pontuais. O improvável já ocorreu na história da humanidade. O provável não é definido, permanece incerto. Nós podemos observá-lo em diferentes épocas da história. Eu o vi em 1941, quando havia uma grande probabilidade de dominação nazista por toda a Europa. Os soviéticos, com a defesa de Moscou, e os japoneses, bombardeando Pearl Harbor, o que forçou a entrada dos Estados Unidos na guerra, fizeram as probabilidades mudar. Isso para dizer que, quando as probabilidades são negativas, eu não fico desesperado, eu me ponho em defesa de um programa.
Não acredito que se deva pensar em um projeto de sociedade; é necessário, sim, indicar um caminho. É essa a dificuldade. Quanto ao programa de transição, que conheci através de Trotsky, bem, não acredito em programas, mas em estratégias. É que um programa já está determinado antes mesmo da caminhada, e o caminho é uma corrente que vai no sentido favorável. Vamos avaliar a situação: será que podemos mudar o caminho? Aparentemente não.
Ao longo da história, podemos identificar que ocorreram mudanças de caminho a partir de acontecimentos isolados, menores, invisíveis, como as mensagens de Buda, de Jesus, de Maomé, ou mesmo o socialismo, que no século XIX tinha Marx, tinha Proudhon, que difundiram ideias que dezenas de anos depois se transformaram em forças muito importantes, gerando tanto a social-democracia como o comunismo. Portanto, sempre houve um início modesto das novas forças. Podemos recorrer à velha noção de história, que caminha também por seus canais subterrâneos, que sempre está em movimento, que o presente não está imóvel e que nele atuam forças de transformação invisíveis. De resto, quando você pensa na descoberta da energia atômica, percebe que foi uma descoberta totalmente invisível, uma descoberta especulativa, intelectual, do exercício de pesquisa de alguns físicos. E dez anos depois essa energia se transforma em bombas de destruição. Portanto, existem muitas coisas que estão invisíveis, o futuro não é previsível, é preciso resistir e construir o improvável.
Um pouco por toda parte existem iniciativas muito importantes, dispersas em relação umas às outras. Há experiências na agricultura, na agroecologia, na biologia, na educação, nas cooperativas, há a economia que chamamos de social e solidária. Temos a necessidade de recusar a grande agricultura capitalista industrializada para defender os pequenos proprietários rurais e a agricultura familiar; há uma luta contra os atravessadores, os intermediários; há muitas frentes que se criam em todos os domínios, o que demonstra que tudo pode ser reformado. Tudo: a justiça, a conservação, a produção. Mas eu digo também que esses processos, que começam localmente e se firmam, devem confluir.
O que é preciso reformar? As estruturas sociais e econômicas? Ou as pessoas e a moral? Eu digo que esses processos têm de vir juntos. Porque, se você reforma somente as estruturas, você chega à situação da União Soviética. Mas, se você propõe caminhos individuais ou comunitários, eles fracassam depois de alguns anos. Operando nos dois planos, essa corrente conflui para criar o novo. O grande problema é a metamorfose − prefiro a palavra metamorfose à palavra revolução −, pois penso que em um momento dado, quando um sistema não é mais capaz de tratar suas questões vitais, ou ele se desintegra, ou regride e se torna ainda mais bárbaro, ou é capaz de criar um metassistema, que recicla seu projeto. A metamorfose existe não somente nos insetos, que se transformam em borboletas, mas também na história. A Europa se metamorfoseou da Europa medieval, feudal, religiosa, para a Europa moderna, contemporânea. A metamorfose é possível e torna possível criarmos um novo modo de desenvolvimento e um novo tipo de sociedade que não podemos prever, mas que ultrapassa as expectativas dos indivíduos e da sociedade atual. Penso que é isso que podemos esperar, mesmo que hoje não sejamos capazes de descrever ou imaginar essa futura sociedade.
DIPLOMATIQUE – Uma pesquisa feita pela Secretaria de Economia Solidária, do governo federal, identificou mais de 42 mil experiências de economia solidária no país. Veja que em nossa sociedade já há sinais de transformação. Mas, paralelamente, existe tal poder no mundo atual − eu falo do poder do sistema financeiro, das grandes corporações −, que mesmo a The Economist assinala que é preciso mudar essa situação. A revista lança um desafio aos governantes: buscar um modelo que contemple, ao mesmo tempo, o crescimento e uma maior redistribuição da riqueza. É uma discussão da transformação e reforma do capitalismo no sentido de manter as estruturas de poder e buscar a estabilidade política promovendo um pouco mais de distribuição da riqueza. É possível pensar nessa metamorfose com esses grandes poderes financeiros que controlam o mundo?
MORIN – Parece-me que a grande dificuldade de lutar contra a dominação do capitalismo financeiro e contra a especulação financeira é que isso só pode ser feito em nível internacional. Por exemplo, para suprimir os paraísos fiscais é necessário que todos os países se ponham de acordo, assim como para taxar a especulação financeira. Penso que há duas ameaças que atemorizam o mundo: uma delas é o capitalismo financeiro, a dominação financeira; a outra é o fanatismo étnico-religioso. Eles se alimentam uns dos outros. A questão das transnacionais está colocada e isso só pode ser tratado em escala planetária. A tragédia é que sofremos da ausência de instituições planetárias dotadas de poder de decisão. O fracasso da Rio+20 criou uma desilusão enorme. É por isso que não progredimos no desenvolvimento da noção de um destino comum para a comunidade terrestre.
Mesmo considerando a ideia de solidariedade internacional que existia, sendo ela socialista, comunista ou libertária, essas ideias não progrediram para enfrentar a situação atual. Agora, quais são as forças sociais que podem agir? Não podemos mais pensar que seja a classe operária, industrial. Em minha opinião, é a boa vontade dos homens, das mulheres, dos jovens e dos velhos, que vão confluir nessa tomada de consciência. E, bem entendido, esse é o destino dos povos que são dominados, oprimidos, e que querem conquistar sua emancipação. E que vão contribuir para o processo de emancipação.
Você falou da Primavera Árabe, que era imprevista, improvável. Desde o início saudei esses acontecimentos com entusiasmo. Escrevi um artigo no Le Mondeem que dizia para pensarmos em 1789: foi uma primavera maravilhosa, mas o que aconteceu depois? Aconteceu o Terror, o Termidor, Bonaparte, o Império, o retorno do rei e a revolução de 1848, e depois novamente o Império, e a França só chegou à República no século XX. Há aí uma mensagem: se regenerar no curso da história. Haverá regressões, manipulações, traições, mas a questão é saber se esses governos eleitos e de tendência extremista vão respeitar ou não as regras da democracia. Somos desafiados a ter esse mesmo papel histórico que a Primavera Árabe. Reconheço que as forças de transformação para criar uma nova situação para o planeta são muito débeis, estão dispersas, mas há momentos de aceleração e de amplificação que precisam ser considerados.
DIPLOMATIQUE – Mas a Primavera Árabe demonstra também que, mesmo se tivermos irrupções sociais fortes de movimentos sociais, as acomodações políticas que buscam a estabilidade colocam os conservadores no governo. Vejo que Immanuel Wallerstein está de acordo com o senhor quando diz que ainda teremos de enfrentar muitas crises para abrir o caminho para uma sociedade pós-capitalista.
MORIN–  Sim, mas quero dizer que as forças energéticas da juventude na Tunísia e no Egito foram capazes de questionar o sistema atual, mas continuam incapazes de anunciar o novo caminho político. E estão divididas. O que faz falta é um pensamento político. A situação demanda um pensamento que não seja somente analítico, mas dê uma direção, um caminho. Hoje, há uma esterilidade total e geral não somente no mundo árabe ou muçulmano, mas também na França. Há uma crise do pensamento político, da capacidade de análise na sociologia mundial. E esse é um fator da impotência atual. É preciso recuperar o pensamento. Jamais haveria o socialismo sem o pensamento de Marx; jamais teríamos um libertarismo sem a contribuição de Kropotkin.
DIPLOMATIQUE – O neoliberalismo, nos anos 1990, terminou com a discussão sobre o futuro. Sua preocupação era administrar a situação presente e melhorar a condição dos mais pobres. Por conta disso não temos uma referência atual, seja do que possa ser a esquerda, seja do que possa ser um programa de transformação no sentido de construir um projeto comum entre os grupos que são diferenciados, mas reivindicam o papel da resistência. Qual é o meio de unificar essas diferenças?
MORIN – O neoliberalismo está em crise. Ele se apresentava como uma ciência, mas hoje sabemos que é uma ideologia. E assistimos à crise gerada por ele. O problema é que sabemos fazer a denúncia, mas não sabemos enunciar o que queremos, qual é o novo caminho. E precisamos caminhar no sentido de construir esse novo caminho comum. Por exemplo, existe todo um conjunto de pequenos camponeses ameaçados pela grande indústria, os pequenos artesãos, o mundo operário − por todos os lados as pessoas são exploradas, alienadas, e tomarão consciência disso. Quando elas tomam consciência − e hoje em dia temos de defender a diversidade, não somente a biodiversidade, mas a diversidade das sociedades −, neste momento estamos no começo de um novo caminho. Não podemos nos iludir, mas também não podemos entrar na desilusão. Entre a desilusão e o encantamento existe uma via que é a da vontade e da esperança.
DIPLOMATIQUE– Qual é a mensagem que o senhor quer dirigir à juventude?
MORIN– Frequentemente, os jovens franceses vêm me encontrar e me dizem que tenho sorte porque, quando eu militava na Resistência, tinha uma causa justa, uma causa bela, que hoje eles não têm. Sua percepção é de que vivemos na precariedade, não temos cultura, futuro algum. E eu lhes respondo que nossa causa tem suas sombras, que não víamos na sua época. Nós libertamos a França em nome da liberdade e contra a dominação. E reafirmamos a dominação sobre a Argélia e sobre nossas colônias. A segunda coisa, eu era comunista; é preciso considerar que Stalingrado foi a maior vitória e a maior derrota. A maior vitória porque barrou o nazismo. A maior derrota porque deu espaço para o stalinismo.
Hoje há uma causa que, em nome da liberdade e contra a dominação, não tem nome; é a causa de toda a humanidade, de todos os povos, de todos os continentes. A humanidade está ameaçada por toda essa loucura, pela busca do lucro, por toda essa insanidade fanática. Minha recomendação é que, aí onde você está, lute pelas mutações, quer elas tenham dimensão global ou local. O desenvolvimento local favorece a melhoria global e a melhoria global favorece o desenvolvimento local. É este o desafio atual: tomar consciência do que hoje são os problemas e se engajar para enfrentá-los. É isso que eu quero dizer para a juventude.

Silvio Caccia Bava
Diretor e editor-chefe do Le Monde Diplomatique Brasil


Ilustração: Pedro Abude

04 de Dezembro de 2012
Palavras chave: Edgar Morinneoliberalismofuturohumanidadesociedadeantropologiasociologia,políticaResistência Francesacontemporaneidadepensamentointelecutalideologiatransformacão social,Mundo árabehistóriasistemacapitalismosocialismo

fonte: http://diplomatique.org.br/artigo.php?id=1324

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

DG Coffee Break

COFFE BREAK

OBJETIVOS: Permitir a apresentação dos participantes no início de um treinamento e quebrar o gelo. 

MATERIAL: Lista de perguntas sugeridas (pode ser uma para cada participante ou apenas uma exibida em um flip-chart ou transparência).

LIMITE DE PARTICIPANTES: Não há limites

DURAÇÃO: Não há limite de tempo definido.

Desenrolar: O facilitador pede aos participantes que formem duplas aleatoriamente. Diz então que todos vão começar a se apresentar, porém de uma forma descontraída. Os participantes irão se conhecer como se estivessem participando de um coffee break. O facilitador deve informar uma lista das principais perguntas para facilitar o quebra gelo inicial. Informar que cada um terá 2 minutos para conhecer o outro colega. Após 2 minutos o facilitador se aproxima de cada dupla no "coffee break" solicitando que o candidato A apresente o B e vice versa.

Sugestões de perguntas: Além das informações pessoais e profissionais básicas que você deseja saber coloque também perguntas do tipo:

 1. Qual característica sua que só é reconhecida pelos outros depois de algum tempo de convivência?
 2. Relate uma situação que lhe remeta a um momento de grande aprendizado,
 3. Se você fosse para uma ilha deserta o que e quem seria indispensável levar?
 4. Qual a personalidade que você mais de identifica e porque?
 5. Qual característica sua você venderia por R$ 1,00?
 6. Que característica sua as pessoas daqui vão ficar sem conhecer/ saber logo após saírem?
 7. Relate algo que você não curte, mas faz por algum motivo.
 8. Relate algo que você curte, mas não faz?
 9. Qual é sua característica marcante de acordo com a opinião dos seus amigos e conhecidos?
10. Se você encontrasse a Lâmpada de Aladin que pedido você faria?

 Fonte: http://www.formador.com.br/dinamica.aspx?JogCodi=259

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Jogo Imagem e Ação



OBJETIVOS:
Trabalhar a integração e descontração, sendo indicado também para processos seletivos.

MATERIAL:
Um envelope para cada participante, contendo uma papeleta onde estará escrita uma palavra composta.

LIMITE DE PARTICIPANTES:
de 10 a 20 participantes

DURAÇÃO:
Não há limite de tempo definido.


Desenrolar:
O facilitador distribui para cada participante um envelope contendo um papel onde se encontra um par de palavras compostas, informando que o mesmo só poderá ser aberto após sua autorização.
 
A seguir o facilitador informa que todos receberam palavras compostas e que eles devem identificar uma outra pessoa que tenha uma palavra que seja igual a sua, formando um par e sentando ao lado desta pessoa.
 
Após formarem os pares informa-se que cada dupla terá que criar uma maneira de expressar, de forma não verbal, a palavra que eles possuem em mãos, dentro de um tempo máximo de 1 minuto. Os dois participantes devem estar envolvidos de alguma forma nesta apresentação. Só poderão sentar assim que a palavra for identificada pelo grupo.
 
Comentários:
 
Por esta atividade ser estimulante e divertida, é indicada para ser utilizada antes mesmo da entrevista em grupo, facilitando assim que os candidatos se sintam mais à vontade para iniciar uma apresentação individual.
 
No caso do número de participantes ser ímpar um assistente ou mesmo um outro participante que já se apresentou poderá formar a dupla com quem sobrar.
 
Muitas vezes dentro de uma organização não temos disponíveis todos os recursos que consideramos importantes para se desenvolver uma determinada atividade, contudo, utilizando-se de criatividade e flexibilidade os resultados podem ser surpreendentes.

DINÂMICA ENVIADA POR:
Armando Pastore Mendes Ribeiro
Pensare Consultoria
www.pensareweb.com.br

sábado, 14 de abril de 2012

O que almejamos para nossa sociedade: Quais os valores estão sendo transmitidos para nossas crianças e jovens


Sonia Maria – Pedagoga e Psicopedagoga/Docência Superior
Introdução
Este artigo não generaliza os fatos, mais mostra os acontecimentos percebidos em um grande número de pessoas, através de pesquisas feitas em escolas públicas, privadas e "ONGs" do Rio de Janeiro, onde a autora teve o privilégio de compartilhar da troca de conhecimento com profissionais, alunos e responsáveis. A sociedade caminha para o caos moral e ético. Mudaram-se os valores! O que tem mais valor para o mercado de trabalho, o conhecimento acadêmico ou o chamado "QI" – "quem indicou?" Alguns pais articulam para seus filhos que o valor do ser humano está no dinheiro que ele tem no Banco. Outros, que para ser alguém na vida deve-se sempre estar em primeiro lugar e não importa a maneira de chegar lá. Percebe-se nas crianças a sensualidade e vaidade aflorada cedo de mais. As escolhas profissionais se resumem em ser jogador de futebol ou modelo fotográfico. Para alguns jovens o conceito do "ganhar dinheiro fácil" tornou-se um lema, para que estudar, se as drogas têm retorno rápido de capital? Os pais perderam o controle da situação de educar e impor limites. As crianças e os jovens estão mais livres para impor seus desejos e autoridade sobre os seus genitores, professores, enfim não existe mais o respeito pelos mais velhos e nem o respeito próprio. Encontram-se responsáveis que culpam a escola pelo mau comportamento dos seus filhos, proferindo a seguinte frase: "Isso ele aprendeu na escola!", mas não percebem que a finalidade da escola é de instruir e capacitar os discentes para a cidadania e o mundo profissional, pois "educação vem de berço" já diziam os antigos. Só que tanto a escola quanto a família e o sistema político-social e econômico de um país tem grande culpabilidade no desenvolvimento moral e ético dos jovens e das crianças. Essa sociedade se tornou capitalista, gananciosa e ambiciosa, ao ponto do ser humano não se preocupar com o seu próximo, mas somente consigo mesmo. E uma sociedade só evolui com produtividade se houver na comunidade respeito, união, solidariedade, compaixão, dignidade, trabalho, educação, saúde e segurança para todos e com todos.A Tecnologia da Informação e Comunicação avança a cada segundo trazendo mudanças na ciência, física, química, eletrônica, na verdade em tudo que está a nossa volta. As mudanças influenciam nosso cotidiano. Mas como administrar tudo isso? Como transformar uma sociedade corrompida, com falhas no sistema educacional, jurídico e da saúde em uma sociedade evoluída no respeito ao próximo, na oportunidade de crescimento profissional para todos com pessoas vivendo com dignidade, sendo bem tratadas nos órgãos públicos, crianças brincando nas praças sem perigo, jovens adorando ler e descobrir coisas novas. Não é difícil! Só depende de cada um de nós! Se cada pessoa refletir nos seus atos e começar o processo de transformação de dentro para fora preservando e cuidando do meio ambiente, refletindo sobre os verdadeiros valores, procurando mais a solidariedade e o respeito ao ser humano, sem dúvida, o retorno será percebido aos poucos, começando pelo meio ambiente e terminando em nós.
Palavras- Chave: Valores Morais e Éticos; Sociedade brasileira.
Valores Morais e Éticos
Para Yves de La Taille, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, os valores éticos e morais são: "moral é o conjunto de deveres derivados da necessidade de respeitar as pessoas, nos seus direitos e na sua dignidade." E "Ética é a reflexão sobre a felicidade e sua busca, a procura de viver uma vida significativa, uma "boa vida".
Todas as escolas, privadas e públicas deveriam ter em seu currículo a disciplina ética e Moral. Independente de religião ou partido político, pois não é certo incutir pontos de vistas e opiniões singulares a outros. O correto é orientar as crianças e os jovens sobre o que é certo ou errado perante a nossa sociedade, instruir sobre a historia da nossa civilização e ensinar o significado de política para que eles através das informações recebidas reflitam e construam seus próprios pontos de vista. Os pais devem impor limites e regras e prestar atenção nas amizades, programas, internet, leituras, sem controlar ao extremo, mas um controle mostrando confiança e segurança dentro de normas e padrões que colocarão esses indivíduos em um caminho de certeza em que não se esbagoarão. Para Yves de La Taille, a situação do mundo hoje é paradoxal.
"De um lado, verificamos um avanço da democracia e do respeito aos direitos humanos. Mas, de outro, tem-se a impressão de que as relações interpessoais estão mais violentas, instrumentais, pautadas num individualismo primário, num hedonismo também primário, numa busca desesperada de emoções fortes, mesmo que provenham da desgraça alheia".
O individualismo ofusca a visão do ser humano, pois, não permite que se perceba o que acontece ao seu redor, a menos quando é do seu interesse. O ser humano está sujeito a errar, por ganância, medo, insegurança, inveja, ou outro sentimento que lhe seja inato. Mas, deve aprender com os seus erros, com isso, crescer no caráter. A acomodação e a inércia são sentimentos que fluem com grande proporção nas decisões prejudicando às vezes a caminhada do individuo. O ser humano é forte, persistente, sonhador, e pugna pelos seus sonhos com dignidade, caráter, humildade e determinação.
Porém, o caráter é edificado na infância diretamente com os exemplos, as diretrizes, as regras e pelo limite que os responsáveis produzem. Quando na escola, as crianças recebem orientações dos professores percebem o meio em que vive assimilando e associando tudo a sua volta e ampliando assim, seu conhecimento no processo ensino-aprendizagem, ou seja, o individuo desde seu desenvolvimento no ventre de sua genitora, começa a sua formação e sua percepção, através da ligação materna. Quando nasce passa transversalmente a conviver com uma sociedade que lhe impõem regras a serem seguidas e respeitadas em nome dos bons costumes tradicionais e recebe da sua família as orientações, estímulos, motivação e exemplos.
Sabe-se que a educação é um processo duradouro, pois o ser humano aprende a cada dia descobrindo novos horizontes na tecnologia transformando a sociedade. Percebem-se no decorrer de alguns anos para a época atual mudanças de valores em todos os seguimentos da formação do individuo. No campo educacional as transformações são perceptíveis através da Tecnologia, pois, as TCIs trouxeram melhorias em todos os setores profissionais a globalização instalou-se no mercado de trabalho existente numa sociedade capitalista. Atualmente, para sobreviver nessa sociedade o individuo deve acompanhar conjuntamente as mudanças, do contrário, ele se torna automaticamente imêmore. No campo familiar, acompanha-se no decorrer dos tempos o nascimento de uma nova concepção de família, onde não há mais limites nem regras aos jovens e as crianças, a liberdade transformou-se em "libertinagem". Nos dias de hoje não se encontra mais o respeito ao ser humano, o egocentrismo nunca esteve em evidencia nas atitudes dos indivíduos que esqueceram como transmitir conceitos de respeito, gentileza, amor imperando na sociedade a inversão de valores. No campo religioso, o homem resolveu fazer papel de DEUS e impor seus vários conceitos filosóficos e bíblicos na ética e na moral, estreitando a mente dos fieis com informações medievais gerando um choque de culturas e ritos no século XXI. No campo profissional temos uma nova interpretação de "QI" e de "conhecimento" e no campo político encontramos uma legislação absurda e sem propósito verdadeiro, transformando a maioria do povo em analfabeto funcional. Pois, em alguns Estados brasileiros, escolas trabalham com a aprovação automática. A falta de Políticas Públicas visando realmente o bem estar e a melhoria de uma sociedade mostram a falência da Educação, da Segurança Pública, do Sistema de Saúde e do Sistema Judiciário. E o esquecimento da Cultura do povo brasileiro, pois o que se percebe é a valorização de culturas de outros povos. Sabe-se que o povo brasileiro é uma mistura de raças, mas que construiu sua própria cultura.
As crianças de hoje estão nascendo com uma percepção e uma capacidade de assimilação muito mais aguçada do que há 40 anos. Atualmente com dois anos já se aprende informática, inglês com facilidade e rapidez. A criança já sabe impor o que quer para seus responsáveis que, para dar uma vida melhor aos seus filhos, estudam e trabalham exageradamente, não participando da educação dos mesmos.
Família e Escola
Atualmente encontra-se um novo conceito para família: Família são as pessoas que vivem na mesma residência e compartilham da educação, orientação, amor, e sustento das crianças, proporcionando-lhes uma vida saudável, tranqüila dentro dos conceitos da sociedade inserida. Nas escolas encontramos crianças e jovens com dois pais, ou duas mães, sem os genitores, mas com os avôs, sem a figura do pai ou de mãe, com os padrinhos ou tios, ou com pai, mãe e irmãos, com avó, mãe e tia, enfim, são varias formações de família deparadas nos dias de hoje. E seja qual for o tipo de família, sua participação ativa na educação dessas crianças e jovens é essencial, como a sua parceria com a escola na instrução dos mesmos focando uma formação de caráter forte e uma preparação para enfrentar o mundo com responsabilidade, atitude, respeito e dignidade formando assim, um cidadão digno e respeitável dentro de sua sociedade.
Mas, nem sempre os profissionais da Educação encontram essa parceria e participação. Entende-se que o mundo está em transformação constante em todos os níveis, social, político, econômico, cultural e principalmente tecnológico, com isso, as pessoas estão correndo contra o tempo para poder manter uma qualidade de vida razoável, sem perceber o quanto essas crianças e jovens vivem uma liberdade sem limites, com o egoísmo, autoridade, falta de respeito e a ganância a flor da pele.
Por onde anda, o respeito ao próximo? Hoje não se encontra mais famílias sentadas a mesa para as refeições. Os passeios estão se tornando cada vez mais individualistas: cada um vai para um lugar e quando vão juntos, geralmente, os jovens ficam afastados com a feição séria e desgostosa ou com o Ipod ligado permitindo a completa alienação com mundo.
Outro fato que chama atenção é a escolha da profissão. As crianças de hoje, na sua maioria, querem ser modelos, jogadores de futebol, pastor ou político. Pois, afirmam eles, "não precisam estudar muito." Como psicopedagoga e professora em uma escola privada do Rio de Janeiro, a autora dialogou com algumas crianças que manifestaram esses desejos profissionais, que o estudo é importante para qualquer escolha, seja jogador, modelo, pastor, político, DJ, cantor, pois sem o estudo não se chega a lugar nenhum terá sempre alguém mais esperto para derrubá-los na estrada profissional. Encontram-se alguns responsáveis que estimulam esse tipo de escolha não incentivando o estudo para se tornarem um engenheiro, ou médico, ou outra profissão também de suma importância para o desenvolvimento de um país.
Se isso de fato acontecer, no futuro não teremos mais médicos, professores, dentistas, mecânicos, engenheiros e tantos outros profissionais que a sociedade necessita para se manter em equilíbrio. Quanto aos jovens de hoje, a realidade na escolha de profissão é muito mais assustadora, pois, as drogas e o sexo exasperado estão com retorno de dinheiro e posição social, rápido e fácil demais.
As escolas brasileiras têm o dever de unir o saber acadêmico à realidade social, econômica e política do seu país para construir uma práxis pedagógica enfocando o desenvolvimento desses indivíduos. Muitas das vezes, e a autora já presenciou, crianças e jovens chegam às escolas sem café da manhã, ou com problemas familiares, ou com sono porque trabalham ajudando em casa, ou ainda, ficam sem aulas devido aos tiroteios em sua comunidade.
O que se percebe na realidade escolar e familiar são o aumento das disfunções no processo ensino-aprendizagem resultado da inversão dos valores éticos e morais e de um desequilíbrio na sociedade brasileira.
Sociedade Brasileira
"O respeito é o valor moral básico.
O outro tem uma dignidade que eu devo respeitar."
Yves de La Taille
A sociedade brasileira vem sofrendo modificações significativas. Depara-se com um aumento de indivíduos não politizados, sem instrução, sem cultura, sem respeito e sem ética profissional. A Tecnologia de Informação e Comunicação trouxe descobertas relevantes nas ciências e no bem estar brasileiro. Mas deparamos com uma violência absurda, que nos coloca em perigo até dentro de nossas casas. Vivenciamos uma guerra a cada dia, pois, lutamos para ter um trabalho com salários dignos, para não depararmos com uma bala perdida, para sermos respeitados nas Unidades de Saúdes Públicas, para termos uma Justiça sem preconceitos e incorruptível, por uma Segurança levada a sério, por boas Escolas, por Políticos que saibam o verdadeiro significado de Políticas Públicas e de Respeito ao Povo, enfim, lutamos pelos nossos Direitos e Deveres registrados na nossa Constituição.
Sofremos todos os dias com os noticiários mostrando crianças e jovens com um ensino debilitado, se envolvendo na marginalidade, na prostituição, na miséria, nas drogas, vítimas de pedófilos ou submergidos. Padecemos ao ouvir as barbaridades que incidem na Política, nos presídios, nas ruas com a miséria, drogas e com os assaltos, com os casos de Racismo ou de falta de respeito ao próximo, seja por sua opção sexual, religiosa ou classe social.
Agüentamos as falsas promessas de políticos para ganharem votos, o fracasso do Sistema Educacional, Judiciário, da Saúde e principalmente da Segurança Pública. Pois, se os funcionários desses órgãos são mal remunerados, isso não é culpa do povo brasileiro que tolera os impostos autos e os salários baixos, mas sobrevivem.
É difícil acreditar que o dinheiro arrecadado com os impostos não é o suficiente para dar uma condição digna para os profissionais dos órgãos públicos, como médicos, policiais, bombeiros, professores e para manter os hospitais, escolas, equipamentos para segurança pública proporcionando uma melhor qualidade de vida para a sociedade brasileira. Por outro lado, vemos políticos com salários altíssimos, com seus familiares empregados e saboreando os prazeres que o dinheiro oferece.
A sociedade Brasileira está precisando de equilíbrio ético e moral de conscientização política visando o bem estar do povo. As crianças e os jovens de hoje são o futuro de amanhã. Que preocupação! Pois, as crianças observam tudo a sua volta, associam e assimilam as informações do meio onde estão inseridas. Necessitam de limites, orientação e regras para a formação de seu caráter. São espertas e inteligentes para determinarem o que querem. Os jovens estão vivendo pouco devido às drogas, que muitas das vezes, é o resultado de uma carencia de amor, de atenção, de orientação, de limites e regras transmitidos por uma família e de miséria. Outros se envolvem com as drogas por terem uma vida profusa de bens matérias e tranqüilidade financeira e carente de bons exemplos, de atenção, de limites e regras.
Todos os indivíduos de uma sociedade têm a responsabilidade de mudar esse quadro. A escola, a família, os órgãos públicos e os governantes do nosso país deveriam trabalhar em conjunto visando uma sociedade digna, politizada, instruída, saudável, respeitando a sua cultura. A sociedade é uma corrente que para ser forte precisa de cooperação, regras, limites, responsabilidade, respeito, trabalho, cuidar do meio ambiente, solidariedade, equilíbrio e união.
Conclusão
Almejamos para nossa sociedade uma vida digna, sem violência, sem desonestidade, sem corrupção, sem imposição religiosa, sem desrespeito, sem falsas promessas, sem mentiras, sem desmatamento e sem desperdício. Aspiramos uma sociedade equilibrada política-social-economica e cultural não se esquecendo do meio ambiente, pois se ele não estiver em equilíbrio ecológico aos poucos a vida sobre a Terra desaparecerá.
É responsabilidade de todos melhorarem as condições de vida da sociedade brasileira. Encontramos alguns indivíduos trabalhando para essa melhora e fazendo a diferença em diversos pólos do Brasil. Mas, ainda é pouco! Vamos ter consciência, atitude e responsabilidade social. Que cada responsável reflita nos verdadeiros valores e em como se encontra a sociedade para na hora de orientar e educar suas crianças e jovens comece a transformação fazendo a diferença dentro de uma sociedade tão corrompida e violenta como a nossa.
Precisamos da junção família-escola-saúde-segurança-políticos, essa corrente deve ser formada com seriedade focando transformações significativas para a vida em sociedade. Não adianta só reclamar ou procurar um culpado. A culpa é de todos nós. Vamos incentivar nossas crianças e jovens a lerem mais, valorizar as boas ações, motivar a criatividade, estimular as descobertas, a plantar arvores e cuidar do meio ambiente, a tratar bem os animais, a respeitar os mais velhos, a respeitar as diferenças, a economizar água, a reciclar, a ser solidário, a valorizar o trabalho, seja ele qual for, desde auxiliar geral ao empresário, pois o trabalho fortalece o caráter e trás dignidade.
A copa do mundo e as olimpíadas estão próximas e com certeza foi uma conquista, mais a verdadeira vitória será a transformação dessa sociedade na reflexão dos valores éticos e morais com uma reforma introspectiva sobre alguns conceitos enraizados de maneira erronia na vida de um povo sofrido e fragilizado pelo medo e pala miséria.
Portanto, prestemos atenção na hora de orientar as nossas crianças e jovens, atenção nos exemplos que transmitimos a esses indivíduos que são o futuro de uma nação.
"Educar-se é encharcar de sentido
 cada ato da vida cotidiana." (Paulo Freire)
Bibliografia
A Produção do saber na relação Individuo-Comunidade. Disponível em: <www.abpp.com.br >, acesso em: 17 de fev. 2007.
BERGER, P., LUCKMANN, T. A Construção social da realidade: tratado de sociologia do conhecimento. Tradução de Floriano de Souza Fernandes. Petrópolis: Vozes, 1976.
LERNER, M. Processo social. Inc: CARDOSO, F. H., IANNI, O. Homem e Sociedade. São Paulo: Nacional, 1984.
Entrevista com Yves de La Taille, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, revista Direcional Escolas – edição 05 – junho/2005.
La Taille, Yves de. Moral e Ética – Dimensões Educacionais e Afetivas. Ed. Artmed.

Autor: Sonia Maria

Fonte: http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_21743/artigo_sobre_o_que_almejamos_para_nossa_sociedade:_quais_os_valores_estao_sendo_transmitido_para_nossas_criancas_e_jovens

Entrevista com Yves de La Taille

Yves de La Taille
Especialista em Psicologia Moral e chefe do Laboratório de Estudos do Desenvolvimento e da Aprendizagem do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo


ENTREVISTA
 Os mais diversos significados são atribuídos aos termos moral e ética. Qual a definição que o senhor adota?
YT: Na definição que eu proponho, a moral situa-se no campo do dever e refere-se à pergunta "como devo agir?", enquanto que a ética responde à questão "que vida quero viver?". Essas duas coisas são complementares, pois somos ao mesmo tempo submetidos às influências da dimensão da regra e da busca da felicidade.
 O senhor poderia dar um exemplo do que seria uma conduta moral e uma conduta ética?
YT: Gosto de citar uma passagem da biografia do escritor francês Albert Camus. Ele conta que, quando pequeno, era um menino pobre que estudava numa escola de meninos ricos. Certo dia, uma professora pediu que cada estudante escrevesse sobre a profissão da mãe. Camus responde que a sua era empregada doméstica, mas fica com muita vergonha. Logo em seguida, sente vergonha de ter sentido vergonha. Na primeira vergonha há um valor ético, que é acreditar que uma boa vida implica riqueza. No segundo momento, há um valor moral, pois ele sabe que não deve ter vergonha da própria mãe.
 Podemos dizer que existe hoje uma crise da moral?
YT: A sociedade capitalista em que vivemos assenta-se sobre uma base materialista, e portanto acaba associando a felicidade à posse, deixando de lado os valores mais transcendentes. É uma sociedade contraditória, que propaga valores morais como "não roubar" e "não mentir" e, ao mesmo tempo, vende a idéia de dinheiro, glória e consumo como objetivos a serem buscados para uma vida feliz. Surge assim uma contradição entre a moral e as respostas sobre a vida, em que a primeira é, na maioria das vezes, sacrificada.
 A educação está falhando na forma de lidar com esse processo?
YT: Apesar de educadores importantes (como Paulo Freire) pregarem o contrário, a maioria das escolas foi virando as costas para a formação mais humanista e crítica e se voltando para uma educação técnica e pragmática, guiada pelo mercado. Eu diria, portanto, que a escola está falhando na sua função crítica, de funcionar como um filtro às várias influências e valores que são passados o tempo todo às crianças. Além disso, poucas escolas têm um trabalho pedagógico específico e bem elaborado para a educação moral como têm para a Matemática, para a Geografia... Ao contrário, quando se trata de educação para valores cada professor está isolado. A escola não está se organizando, não está levando a sério essa questão.
 Pais e professores vivem empurrando uns para os outros a responsabilidade quanto à formação moral e ética das crianças. Qual a parte que cabe a cada um?
YT: Esse é um trabalho dos dois. A moral e a ética são valores culturais, e a criança é aculturada na família, na escola, na mídia, na rua etc... Tanto a escola quanto a família têm de deixar claros os seus valores e definições do que é uma vida plena. Se não o fazem, acabam sendo substituídas pela mídia, que exerce muito bem esse papel. Como já disse, hoje as respostas éticas e morais são freqüentemente contraditórias. As crianças ficam perdidas e isso evidentemente prejudica tanto o desenvolvimento moral quanto ético. Cabe à escola e à família ajudá-los nesse processo.
 E a família e escola têm poder para isso? Mesmo diante de meios tão poderosos como a TV, que impõe valores diariamente às crianças?
YT: A televisão é um meio poderoso, é verdade. Mas a família e a escola também o são. O que falta é colocar de forma mais clara os seus valores, as suas respostas éticas, as suas regras e os princípios que inspiram essas regras.
 Com os PCN, a ética passou a ser um tema transversal que deve ser abordado pelos professores das diversas disciplinas. Mas ensinar valores é bem diferente do que ensinar Matemática ou Língua Portuguesa. Na sua opinião, os docentes estão capacitados para isso?
YT: A questão da formação dos docentes toma uma dimensão totalmente diferente no campo da ética e da moral. No caso da Matemática, há o conteúdo e as técnicas para ensinar esse conteúdo. O mesmo acontece com a História, com a Língua Portuguesa, com a Educação Física. Com a moral e a ética é diferente. Antigamente, determinadas pessoas eram reconhecidas como porta-vozes legítimos da educação moral. O padre, por exemplo. Mas e hoje, quem tem legitimidade para isso? Não há um especialista em moral e ética. Logo, esse papel é exercido por todos os professores. Há muito pouco o que se fazer com relação à formação técnica, para que eles exerçam bem esse papel.
Devem, talvez, estudar um pouco sobre o que a psicologia do desenvolvimento tem a dizer sobre a criança. Saber, por exemplo, que uma criança de oito anos não consegue assimilar princípios, apenas regras concretas. O mais importante, porém, é saber trabalhar de forma em conjunto com os colegas. Um professor tem pouca força quando trabalha isoladamente. As políticas e estratégias devem ser discutidas coletivamente por toda a equipe de docentes e direção.
 O senhor pode dar um exemplo de como seria esse trabalho em conjunto?
YT: Veja as campanhas que as escolas fazem contra o fumo. Quantas crianças não voltam para casa e brigam com os pais para deixarem o cigarro? A escola consegue influenciar a criança e a família sobre essa questão porque tem uma campanha bem feita, complexa, onde todos se mobilizam. Se, da mesma forma, ela se organizar para mostrar a importância de determinados valores, também terá bons resultados. A escola tem mais força do que imagina.
 Isso significa que os valores só podem ser discutidos em grandes campanhas?
YT: Não, as campanhas funcionam quando se trata de um assunto que está diariamente na mídia, como a paz atualmente. Mas o importante no trabalho com valores é invadir a rotina escolar. A ética tem de estar presente no recreio, na reunião de pais, ou mesmo na hora de lidar com um aluno indisciplinado. Vamos imaginar um estudante que insiste em ficar conversando durante a aula. Ao invés de colocá-lo para fora, o educador pode levá-lo a refletir sobre a situação, fazê-lo se colocar no lugar do professor para perceber como ele se sente desrespeitado. Nesse momento, a moral e a ética estão sendo trabalhadas.
 E como avaliar os resultados desse trabalho?
YT: A ética não pode ser avaliada. O professor pode apresentar valores que julga importantes, mas o aluno tem liberdade de decidir se os adota ou não. A avaliação, portanto, só pode ser sobre a moral. E eu diria que a melhor forma de avaliá-la é observar o comportamento da turma no dia-a-dia. O fato de ela estar mais respeitosa, mais pacífica, é o melhor indicador de que o trabalho está dando resultado.
 Como saber quais valores e respostas éticas devem ser trabalhados?
YT: Isso quem deve definir é a escola. Existem alguns valores, como solidariedade e justiça, que estão na Constituição brasileira. Já as respostas éticas são mais complicadas. A escola tem de escolher os seus valores, princípios e regras e deixar isso bem claro para os pais. Ao criar, por exemplo, uma regra para impedir o uso do celular, deve deixar claro que por trás dessa decisão há um princípio, que é o de evitar interferências externas. Essas coisas aparentemente banais pressupõem uma profunda reflexão sobre valores morais e éticos. Com base nessa reflexão chega-se aos princípios - que, por sua vez, definem as regras que serão adotadas.
 É importante o professor refletir mais, então?
YT: Sem dúvida. Para que a escola tenha sucesso na formação moral ela precisa refletir mais sobre os valores que quer adotar. E isso deve começar por uma reflexão pessoal de cada professor. Em geral, pessoas que têm clareza sobre os seus próprios valores trabalham mais facilmente esse tema.
(Por Priscila Ramalho)

Yves de La Taille: "Nossos alunos precisam de princípios, e não só de regras"

Para o psicólogo, a escola deve investir em formação ética no convívio entre alunos, professores e funcionários para vencer a indisciplina


Agressões, humilhação, ausência de limites. Nove em cada dez educadores reclamam que as salas de aula estão cada vez mais incivilizadas e que é preciso dar um basta. Para resolver o problema, nove entre dez escolas recorrem a regras de controle e punição. "É legitimo, mas é pouco. É preciso criar uma lei para coibir algo que o bom senso por si só deveria banir?", questiona Yves de La Taille, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Especialista em Psicologia Moral (a ciência que investiga os processos mentais que levam alguém a obedecer ou não a regras e valores), ele defende que a escola ajude a formar pessoas capazes de resolver conflitos coletivamente, pautadas pelo respeito a princípios discutidos pela comunidade. O caminho para chegar lá passa pela formação ética - não necessariamente como conteúdo didático, mas principalmente no convívio diário dentro da instituição.
Co-autor dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) sobre Temas Transversais, La Taille aponta que a tentativa de abordar assuntos como ética, orientação sexual e meio ambiente de maneira coordenada em várias disciplinas não funcionou no Brasil. "É uma proposta sofisticada que não se transformou em realidade." Nesta entrevista concedida a NOVA ESCOLA, o ganhador do Prêmio Jabuti de 2007 na categoria Educação, Psicologia e Psicanálise, com o livro Moral e Ética, Dimensões Educacionais e Afetivas, indica caminhos para trabalhar esses temas no ambiente escolar.

Políticos, educadores e a sociedade cada vez mais pedem ética para solucionar problemas  sociais. A que se atribui essa demanda? 
YVES DE LA TAILLE
 Existe uma situação de medo, uma percepção de que as relações humanas estão cada vez mais desrespeitosas. Mas creio que a demanda social não seja realmente por ética. O clamor, na verdade, é por normatização. Tanto que hoje temos uma espécie de hiperinflação de leis. Um exemplo é o projeto aprovado pela Assembléia Legislativa de São Paulo proibindo o uso de celulares dentro das classes. É claro que atender ao aparelho durante a aula atrapalha, mas como a escola enfrenta esse problema? Criando uma regra de controle em vez de discutir os valores envolvidos nessa situação - o respeito ao outro, por exemplo. Penso que deveria haver uma regulação social, e não uma regulação estatal, para esses comportamentos.

O que significa isso? 
LA TAILLE
 Significa que a própria sociedade deveria ser capaz de administrar essas atitudes. O professor, por exemplo, tem a possibilidade de dizer: "Não vamos usar o celular porque isso atrapalha a aula, a não ser numa emergência". Quando uma lei exterior resolve até os mínimos conflitos, cria-se uma sociedade infantil. Já a formação ética, em vez da simples normatização, discute as relações com outras pessoas, as responsabilidades de cada um e os princípios e valores que dão sentido à vida.
Como a escola pode discutir princípios e valores? LA TAILLE Antes de tudo ela tem de eleger seus próprios princípios, coerentes com a
Constituição brasileira: liberdade, respeito, igualdade, justiça, dignidade... É fundamental,
ainda, deixar claro aos estudantes e pais quais são esses princípios, defendendo-os com unhas e dentes. Por exemplo, se um aluno for humilhado, ferindo o princípio da dignidade, algumacoisa precisa ser feita. Aí entram debates, reuniões e assembléias para discutir regras que garantam a defesa do princípio. "A dimensão moral da criança tem de ser trabalhada desde a pré-escola. Ética se aprende, não é uma coisa espontânea"

Qual é a real influência da escola no desenvolvimento moral e ético? LA TAILLE Em primeiro lugar, é preciso lembrar que criar cidadãos éticos é uma responsabilidade de toda a sociedade e suas instituições. A família, por exemplo, desempenha uma função muito importante até o fim da adolescência, enquanto tem algum poder sobre os filhos. A escola também, na medida em que apresenta experiências de convívio diferentes das que existem no ambiente familiar - se deixo meu quarto bagunçado, o problema é meu; se deixo uma classe bagunçada, o problema não é só meu.

Cidadania e ética podem ser trabalhadas nas séries iniciais?
PERGUNTA DA LEITORA Solange Gomes, Vilhena, RO 

LA TAILLE
 Claro. A dimensão moral da criança tem de ser tratada desde a pré-escola e se estender por toda a trajetória do aluno. O trabalho pode ser feito de forma simples ou sofisticada, não importa: o que a escola não pode é silenciar. Décadas atrás, tiraram a disciplina Educação Moral e Cívica do currículo. É bom que ela tenha sido eliminada por causa de sua ligação com a didatura militar, mas o problema é que não colocaram nada no lugar. Moral, ética e cidadania se aprendem, não são espontâneas.

É preciso criar aulas específicas para abordar esses temas? 
LA TAILLE
 Penso que a transversalidade é melhor que uma aula específica. Se ela for considerada inviável numa determinada instituição, então que se proponha uma aula. Mas, se essas discussões não encontrarem eco nas próprias relações da escola, o trabalho em sala terá pouco efeito. É preciso que o conteúdo seja inseparável do convívio. Não adianta falar das belas virtudes da justiça e da generosidade e ter um ambiente de desrespeito e indiferença. Por outro lado, se os contatos forem expressão de uma sociedade digna e solidária, faz sentido discutir justiça e generosidade. Existe uma ponte entre a vida e a reflexão sobre a vida.

Muitos educadores trabalham regras de convivência com a turma em suas aulas por meio dos combinados, discutindo normas coletivamente. Qual é sua opinião sobre essa prática? 
LA TAILLE
 Para que um combinado seja efetivamente aceito, é preciso prestar atenção a três aspectos. Primeiro, é necessário que os princípios inspiradores norteiem o acordo e sejam explicitamente colocados, não fiquem apenas implícitos para a turma. Na escola inglesa Summerhill, por exemplo, um dos princípios fundamentais é o da igualdade. Com base nele, ficou decidido que nenhuma assembléia poderia resolver que os meninos menores serviriam aos maiores - algo que, na prática, poderia acontecer caso os mais velhos tivessem maioria em uma votação, digamos. Esse, aliás, é o segundo ponto importante: deve-se evitar ao máximo que os combinados se dêem por votação. É preferível procurar o consenso, o que dá muito mais trabalho mas é bem mais rico porque desenvolve a prática de escutar o outro. Se o grupo segue muito rápido para a votação, elimina-se uma etapa preciosa que poderia ser dedicada ao diálogo. A votação não é diálogo, a votação é poder: se eu tenho mais votos que você, você perde e eu ganho. Em terceiro lugar, o professor não pode abrir mão de seu papel de autoridade, simplesmente jogando para o grupo asresponsabilidades pelas sanções que o combinado pode gerar.

Há algum caso prático que exemplifique essa atuação? 
LA TAILLE
 Posso contar um fato real ocorrido numa excelente escola, uma das melhores que eu conheço. A professora combinou com uma turma de 5 e 6 anos que, após as brincadeiras, as crianças guardariam os brinquedos. Todas brincaram, mas duas delas resolveram não guardar o brinquedo. O que fazer nessa hora? A educadora - que depois se arrependeu profundamente - propôs que a classe criasse uma lista num pedaço de papel, escrevendo de um lado aqueles que cumpriram o combinado e do outro os que não. Resultado imediato: o menino e a menina que haviam desobedecido ao acordo ficaram desesperados porque se viram excluídos. Foram para casa e disseram que não queriam mais voltar à escola de jeito nenhum. O erro da professora foi justamente atribuir ao grupo a sanção. A tirania do grupo às vezes é pior do que a tirania de uma só pessoa.

Qual seria a atitude correta da professora nessa situação? 
LA TAILLE
 Ela deveria ser a guardiã do combinado, dizendo aos pequenos: "Vocês vão arrumar os brinquedos, sim. Primeiro, em razão do combinado. Segundo, porque eu estou mandando". É preciso cuidar para que a criança não substitua a figura do adulto. Ela precisa dessa referência de autoridade, de proteção, de confiança. Depois, à medida que a turma vai tomando consciência e refletindo sobre as questões morais, pouco a pouco o grupo passa a assumir essa referência.

Então, pode-se dizer que a questão da indisciplina é um problema moral? 
LA TAILLE
 Depende do que se entende por indisciplina. Eu vejo três definições para o termo. A primeira tem a ver com a falta de autodisciplina, que é quando o aluno não consegue organizar a tarefa. A segunda pode ser associada à desobediência. Acontece quando eu mando o aluno fazer algo e ele não faz. Eu deixo de ter autoridade porque ele não seguiu minhas ordens, mas não fui desrespeitado. O estudante pode desobedecer dizendo algo como "Senhor, me desculpe, mas eu não vou fazer a lição". É uma questão política, tem a ver com a legitimidade do posto de direção. A terceira indisciplina, o desrespeito, essa, sim, é uma questão moral. Se estou lecionando e o aluno se levanta e vai embora como se eu não existisse, fui desobedecido como autoridade e desrespeitado como pessoa, independentemente do fato de eu ser ou não professor. Isso não se justifica. Um professor com uma aula chata não me autoriza de jeito nenhum a desrespeitá-lo.

Como co-autor do capítulo dos Temas Transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais, qual é  sua avaliação sobre o impacto desse documento na formação dos alunos? 
LA TAILLE
 Em geral, o que se verifica é que a tranversalidade foi pouquíssimo implementada. Ela se baseia na idéia de que um determinado tema social seja trabalhado coordenadamente por professores de várias disciplinas. Cada um deles contribuiria, dentro de sua área de atuação, para o ensino desses assuntos. Para que isso seja feito, é preciso que a equipe se reúna,  estabeleça metas e defina o que cada um vai abordar. Isso pressupõe uma elaboração complexa: o tempo é essencial para organizar as propostas, colocá-las à prova e - não vamos esquecer nunca - avaliá-las. Na prática, esbarra- se em diversos problemas, como o fato de muitos professores trabalharem em várias escolas e só comparecerem para dar aulas ou, no máximo, também às reuniões ligadas a sua disciplina.

As escolas não estão preparadas para a transversalidade? LA TAILLE Eu diria que não estão disponíveis para ela, até pelas condições trabalhistas que acabei de mencionar. Existem belíssimas atividades com temas transversais, mas quase sempre são levadas por um único professor. Raramente há o comprometimento institucional necessário para o projeto se tornar a realidade proposta pelos PCNs. E o governo também precisa se comprometer.

De que forma? 
LA TAILLE
 Os políticos prestam um grande desserviço à Educação quando cada novo governo quer  partir quase do zero, como se cada mandato fosse a Revolução Francesa, que aboliu o calendário  anterior e implantou novos meses, novas datas. Pegue-se o caso dos PCNs, feitos no governo  Fernando Henrique e atualmente deixados de lado, apenas vegetando no site do Ministério da  Educação. E o programa Parâmetros em Ação, que era essencial para instrumentalizar a proposta,  foi abandonado. Ele seria essencial para concretizar os PCNs, que são, evidentemente, teóricos.
Quer saber mais?
BIBLIOGRAFIA
Labirintos da Moral
, Mario Sérgio Cortella e Yves de La Taille, 112 págs., Ed. Papirus, tel. (19) 3272-4500, 26 reais
Limites: Três Dimensões Educacionais, Yves de La Taille, 152 págs., Ed. Ática, tel. 0800-115-152, 34,90 reais
Moral e Ética - Dimensões Intelectuais e Afetivas, Yves de La Taille, 192 págs., Ed. Artmed, tel. 0800-703-3444, 36 reais
Vergonha, a Ferida Moral, Yves de La Taille, 288 págs., Ed. Vozes, tel. (24) 2233-9000, 43,90 reais

Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/crianca-e-adolescente/comportamento/fala-mestre-yves-la-taille-466838.shtml