sábado, 18 de fevereiro de 2012

Da Rivalidade-Competitiva ao Humanismo-Altruísta


por Mônica Teixeira
extraído da seção "Entendendo os Jogos" da edição 3 do ano II da Revista Jogos Cooperativos.


O principal objetivo desta coluna é proporcionar ao leitor, reflexão, inquietação e algumas " viagens" por pontos de vista e teorias ligadas aos Jogos Cooperativos e à Pedagogia da Cooperação.
Quando falamos do tema "competição e cooperação" muito vem a tona, e por vezes torna-se confuso e complicado avaliar certos comportamentos e atitudes dentro do contexto social atual; se separarmos de forma estanque, a competição e a cooperação, pois desta forma o que temos são dois pólos opostos que muitas vezes não contemplam todas as possibilidades e nuances da vida.
Em 1989 Terry Orlick escreveu o livro Vencendo a Competição(1), uma espécie de marco para os Jogos Cooperativos, infelizmente já esgotado em sua edição em português, onde aborda com profundidade e consistência várias questões, trazendo uma visão diferente para os modelos sociais e mentais que conhecemos e que até então eram praticamente tidos como única opção.
O relato de Orlick sobre a competição, cooperação e os padrões sociais vigentes é muito rico e profundo, ou seja, uma análise social e psicológica enriquecedora.
Após ler e refletir sobre o trabalho de Orlick, fica claro o quão simplista é a idéia de traduzir um comportamento, como cooperativo ou competitivo, pois comportamentos são multifacetados, ocorrendo o mesmo quando tratamos do binômio competição - cooperação.
Nesta direção, Orlick trouxe portanto uma visão muito interessante, verificando e demonstrando que pode-se ser competitivo e destrutivo ou simplesmente buscar aquilo que se deseja e necessita, pensando em si mesmo individualmente sem destruir ninguém, assim como pode-se ser cooperativo e altruísta buscando a solidariedade porque isso faz bem para os outros.
Na tabela ao lado, Orlick relaciona vários tipos de comportamento que podem ocorrer entre a competição e cooperação e de acordo com a orientação interna existente no individuo.
Ele apresenta a Rivalidade Competitiva, Disputa Competitiva e o Individualismo com as respectivas orientações: anti-humanista, contra os outros e egocêntrica. Estes comportamentos compõem um tipo de relação desumanizadora, onde não há preocupação com o outro.
Outros comportamentos são a competição cooperativa ou o que alguns chamam atualmente de co-opetição, a cooperação não competitiva e o auxílio cooperativo. Em todos esses comportamentos a orientação é humanista que gera relações humanizadoras onde valores positivos e a preocupação com o outro é fundamental.
Eu particularmente acredito que a cooperação seja sempre a melhor opção. Sendo assim, quando a opção é por comportamentos cooperativos e por uma visão humanista, ocorre a construção de relações baseadas na ética, no amor, no respeito, na solidariedade e na confiança.
Quando jogamos, demonstramos na maneira como jogamos quem somos e como nos relacionamos com o mundo a nossa volta. Orlick faz vários questionamentos e este em particular é muito interessante: "Porque não desenvolver jogos que criem uma miniatura das utopias que gostaríamos de viver? Porque não criar e participar de jogos que nos tornem mais cooperativos, honestos e atenciosos para com os outros?"
Os Jogos são ferramentas poderosas para auxiliar na formação e mudanças de comportamentos através da consciência das orientações e modelos mentais existentes, pode-se escolher conscientemente qual caminho seguir.
Quando abordamos essa questão em cursos, muitas pessoas acreditam que a melhor opção seja a cooperação de maneira ampla, mas que sentem-se em muitas situações com certa "desvantagem" ou até mesmo "meio idiotas"; pois os outros levam vantagem sobre aqueles que estão buscando outro tipo de atitude. Então muitos perguntam: "- Mas se todos os outros fazem de outra forma e só eu respeito, coopero, sou solidário, o que isso mudaria afinal?
Para refletir sobre isso vou compartilhar uma breve história muito interessante: -um garoto foi a uma festa de aniversário e sua mãe recomendou que ele comesse os brigadeiros somente após o parabéns, não antes. O menino obedeceu a mãe. Após o parabéns o menino foi comer os brigadeiros e já não havia sobrado nenhum, pois as outras crianças haviam comido todos os brigadeiros durante a festa, antes do parabéns. O menino voltou para casa chorando e questionando a mãe que ficou perdida e escreveu o caso para um jornal local pedindo ajuda a um especialista.
No caso acima muitos pais diriam algo assim:
- Da próxima vez, se os outros estiverem comendo antes, coma também os brigadeiros e pronto! Ou; - Se os outros não respeitam então que se dane! Coma tantos quanto puder, não seja bobo!
Minha questão é: Até onde devemos sacrificar algo que acreditamos ser uma atitude correta em prol de levar vantagem, não ser "feito de bobo" ou de ser mais competitivo e ganhar dos outros?
Até onde deve-se defender ou abrir mão de um valor?
Qual é o limite que se suporta para manter uma determinada atitude? Como você se sente quando enfrenta um congestionamento na estrada e outros motoristas utilizam o acostamento como pista? Você mantém seus princípios?
Certa vez ouvi em um curso uma estatística, resultado de uma pesquisa norte americana, demonstrando que quando uma pessoa muda de fato seu comportamento faz com que outras cinco pessoas possam ser "contaminadas" também, por um novo modelo de comportamento e que isto a leva a modificar suas ações se assim for de sua vontade; e então "contaminar" mais pessoas. Acredito que isto de fato ocorra quando no trânsito, no supermercado, no trabalho, na fila, etc...mostramos um comportamento cooperativo, estamos contribuindo positivamente para uma sociedade mais cooperativa e humanista.
Por isso nossa atenção com os grandes e pequenos atos, com as palavras e até mesmo nossos pensamentos é muito importante pois é no dia a dia que ocorre o mais importante Jogo Cooperativo.
Referências:
(1)Orlick, Terry. Vencendo a Competição. São Paulo; Círculo do Livro, 1989



CATEGORIA DE COMPORTAMENTOORIENTAÇÃOMOTIVAÇÃO PRINCIPAL
Rivalidade competitiva





Disputa competitiva
















Individualismo














Competição cooperativa













Cooperação não competitiva










Auxílio cooperativo
Anti-humanista





Dirigida para um objetivo (contra os outros)
















Em direção ao ego












Em direção ao objetivo (levando em conta os outros)














Em direção ao objetivo (levando em conta os outros)










Humanista-altruísta
Dominar o outro. Impedir que os outros alcancem seu objetivo. Satisfação em humilhar o outro e assegurar que não atinja seus objetivos.

A competição contra os outros é um meio de atingir um objetivo mutuamente desejável, como ser o mais veloz ou melhor. O objetivo é de importância primordial e o bem-estar dos outros competidores é secundária. A competição é as vezes orientada para a desvalorização dos outros.

Perseguir um objetivo individual. Ter êxito. Dar o melhor de si. O foco está em realizações e desenvolvimento pessoais ou o aperfeiçoamento pessoal, sem referência competitiva ou cooperativa a outros.

O meio para se atingir um objetivo pessoal, que não seja mutuamente exclusivo, nem uma tentativa de desvalorizar ou destruir os outros. O bem-estar dos competidores é sempre mais importante do que o objetivo extrínseco pelo qual se compete.

Alcançar um objetivo que necessita de trabalho conjunto e partilha. A cooperação com os outros é um meio para se alcançar um objetivo mutuamente desejado, e que é também compartilhado.


Ajudar os outros a atingir seu objetivo. A cooperação e a ajuda são um fim em si mesmas, em vez de um meio para se atingir um fim. Satisfação em ajudar outras pessoas a alcançar objetivos.

Fonte: 
http://www.jogoscooperativos.com.br/entendendo_os_jogos.htm

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