sábado, 18 de fevereiro de 2012

A importância do jogo na aprendizagem.

por Mônica Teixeira

Em nossa edição anterior navegamos um pouco sobre diversas visões do que é jogo. Dentro de nossa proposta de termos diferentes visões, nesta edição navegaremos um pouco no tema jogo e aprendizagem, na ótica de uma psicopedagoga a profa Maria Célia Rabello Malta Campos, em entrevista no site: www.psicopedagogia.com.br.

Qual a importância dos jogos no contexto educacional?
O uso dos jogos no contexto educacional só pode ser situado corretamente a partir da compreensão dos fatores que colaboram para uma aprendizagem ativa. Vemos muitas vezes jogos de regras modificados sendo usados em sala de aula com o intuito de transmitir e fixar conteúdos de uma disciplina, de uma forma mais agradável e atraente para os alunos. No entanto, mais do que o jogo em si, o que vai promover uma boa aprendizagem é o clima de discussão e troca, com o professor permitindo tentativas e respostas divergentes ou alternativas, tolerando os erros, promovendo a sua análise e não simplesmente corrigindo-os ou avaliando o produto final. Isso tudo não é muito fácil de controlar e muito menos de se prever e planejar de antemão, o que pode trazer desconforto e insegurança ao professor. Por isso, ele tende a usar os jogos e outras propostas que potencialmente ativam as iniciativas dos alunos ( como pesquisas ou experiências de conhecimento físico) de modo muito limitado e direcionado e não como recurso de exploração e construção de conhecimento novo.
Piaget afirma que "O jogo é um tipo de atividade particularmente poderosa para o exercício da vida social e da atividade construtiva da criança", você acrescentaria algo a esta afirmação?
Numa visão psicopedagógica que procura integrar os fatores cognitivos e afetivos que atuam nos níveis conscientes e inconscientes da conduta, não podemos deixar de lado a importância do símbolo que age com toda sua força integradora e auto-terapêutica no jogo, atividade simbólica por excelência. Abrir canais para o simbólico do inconsciente não é só promover a brincadeira de "faz de conta" ou o desenho. Qualquer jogo, mesmo os que envolvem regras ou uma atividade corporal, dá espaço para a imaginação, a fantasia e a projeção de conteúdos afetivos, mais ou menos conscientes, além, é claro, de toda a organização lógica que está ali implícita. Por isso, deve-se poder compreender as manifestações simbólicas e procurar adequar as atividades lúdicas às necessidades das crianças.
Qual a importância dos jogos em grupo?
Aprender com o outro é mais rápido e mais efetivo porque é mais prazeroso. Uma das coisas que o jogo assegura é esse espaço de prazer e aprendizagem que o bebê conhece mas que a criança perde quando entra na escola.
O jogo auxilia na construção do conhecimento?
Dependendo de como é conduzido, como procurei mostrar na primeira pergunta, o jogo ativa e desenvolve os esquemas de conhecimento, aqueles que vão poder colaborar na aprendizagem de qualquer novo conhecimento, como observar e identificar, comparar e classificar, conceituar, relacionar e inferir. Também são esquemas de conhecimento os procedimentos utilizados no jogo como o planejamento, a previsão, a antecipação, o método de registro e contagem e outros.
Como o professor deve escolher os jogos para serem usados em sua sala de aula?
Conhecendo primeiramente as condições e as necessidades de cada estágio desses esquemas de conhecimento. O que ocupa uma criança de pré-escola ou um garotão de secundário, cognitivamente falando? Não é questão de oferecer jogos diferentes para cada faixa etária (como vem indicado nas caixas de jogos). Jogos com a mesma estrutura podem servir para várias idades se manejamos a sua complexidade, aumentando ou diminuindo o número de informações. Nos jogos de Senha, por exemplo, podemos variar de 3, 4 ou mais, os elementos a serem descobertos, o que resulta numa diferença muito grande de complexidade da tarefa. Se trabalhamos com dois atributos, cor e posição, colocamos mais dificuldade para coordenar as partes no todo, mas se combinamos de saída as cores, a criança só vai se preocupar em achar a seqüência das posições da Senha. Outro aspecto é o nível de abstração em que a criança vai operar: o mesmo jogo pode ser apresentado por figuras ou apenas verbalmente, caso esse em que o poder de abstrair e de conceituar a partir de proposições precisa ser bem maior.
O jogo sempre foi visto como divertimento, distração, passa-tempo, como é visto no seu trabalho?
Assim mesmo. Se o jogo vira obrigação ou é usado com finalidade de instrução apenas, perde seu caráter de espontaneidade e deixa de ser jogo porque se esvazia no seu potencial de exploração e invenção. Brincar é fundamental. Muitos adultos não sabem brincar, perderam essa capacidade de se descontrair, de se arriscar ou nunca a tiveram e aí fica difícil usar o jogo como recurso tal como eu o entendo
Maria Célia Rabello Malta Campos - Pedagoga com especialização em Psicopedagogia, doutoranda e mestre em Psicologia Escolar pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Docente na pós-graduação latu-sensu em Psicopedagogia da Universidade Mackenzie (S.P.), da Universidade Católica de Pernambuco (convênio UNICAP - CEPAI), da Faculdade Pio Décimo (Aracaju). Supervisora de estágio clínico e institucional em cursos de Psicopedagogia e para profissionais (educadores, psicopedagogos, psicólogos e fonoaudiólogos). É membro do Conselho Nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia, da qual foi presidente no biênio 93-94. Tem diversos artigos publicados, enfocando a avaliação dos problemas de aprendizagem e os fundamentos teórico-práticos da intervenção psicopedagógica, numa abordagem piagetiana e psicanalítica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário