sábado, 18 de fevereiro de 2012

Jogos Cooperativos e Educação

por Mônica Teixeira
extraído da seção "Entendendo os Jogos" da edição 6 do ano I  da Revista Jogos Cooperativos.

A tecnologia avançada, o individualismo e a riqueza material tornaram-se mais importantes para o homem moderno que valores como a união, o amor, a cooperação, a bondade, a paz, a responsabilidade, a organização e a riqueza espiritual. Nossa sociedade é baseada no consumo e orientada para a produtividade, portanto dentro deste contexto, muitas vezes o único caminho que vemos é o da competição. Se acreditamos que a competição é o único e natural caminho, entramos em uma grande armadilha, pois se é isso que acreditamos é o que construiremos.
Muitos dizem que competir faz parte da natureza do homem. Na verdade, o homem tem uma natureza neutra, portanto não é competitivo ou cooperativo em sua essência! Essa foi uma das conclusões da antropóloga Margaret Mead. Em suas pesquisas Margaret concluiu que o cooperativismo em uma sociedade, não depende do ambiente físico, do desenvolvimento tecnológico ou do suprimento real dos bens desejados. É a estrutura social que determina se os membros dessa sociedade irão cooperar ou competir entre si. Daí a importância e extrema urgência em levar às nossas crianças e jovens, valores positivos para uma transformação efetiva de nossa sociedade.
Atualmente, a escola é o local onde se aprende cada vez mais sobre o universo físico, e muito pouco sobre o mundo interior e subjetivo. O relatório eleborado pela Comissão Internacional para Educação, mais comumente conhecido como Relatório Delors, intitulado "A Educação contém um tesouro", destaca a dificuldade que muitos professores enfrentam em continuar sendo também educadores, em face da grande quantidade de conhecimentos que devem transmitir aos alunos. Freqüentemente surgem situações em que a escola, tendo que ensinar cada vez mais e mais, acaba por educar menos e menos. Lida-se muito com informação em detrimento da formação do indivíduo. Os jovens envoltos em trocas contínuas, tanto de seu corpo físico quanto da quantidade de informações e mudanças ultrasônicas do mundo moderno, terminam absorvidos pelo fluxo de atividades e responsabilidades dentro e fora de sala de aula, principalmente nas camadas mais pobres, onde, inicia-se a chamada luta pela sobrevivência muito cedo, e com isso a formação de valores fica prejudicada. A escola, muitas vezes sem perceber, tem reforçado demasiadamente valores como: ser o melhor, colocar o foco no resultado e não no processo e na qualidade, objetivar a derrota do oponente ao invés da melhora da performance, reforçando assim, atitudes e posturas competitivas, as quais poderão reproduzir na vida adulta, através de rivalidade, exploração de seus semelhantes, pouca ou nenhuma solidariedade, exclusão, violência, destruição ambiental, e quando educarem seus filhos são os valores que aprenderam que irão transmitir.
Terry Orlick*, coloca: "Dar uma contribuição ou fazer alguma coisa bem, simplesmente não exige a derrota ou a depreciação de outra pessoa. Pode-se ser extremamente competente, tanto física como psicologicamente, sem jamais se prejudicar ou conquistar o outro. Muitas pessoas ainda acreditam que para "vencer" ou "ter sucesso", é preciso ser um feroz competidor e quebrar as regras. Muitas pessoas parecem achar que para ensinar as crianças a viver e prosperar na sociedade é necessário prepará-las para serem competitivas e tirar vantagens dos outros, antes que os outros o façam."
É comum ouvir-se defender a competição como um elemento importante na educação das crianças, sob o pretexto de que assim ficariam melhor preparadas para viverem num mundo competitivo como o nosso. Esse mito foi derrubado pela pesquisa sobre o aprendizado cooperativo, pois na verdade a competição diminui a auto-estima e aumenta o medo de falhar, reduzindo a expressão de capacidades e o desenvolvimento da criança. Ela promove a comparação entre as pessoas e acaba por favorecer a exclusão baseada em poucos critérios. Um ambiente competitivo aumenta a tensão e a frustração e pode desencadear comportamentos agressivos. Com relação ao desempenho acadêmico, uma série de estudos demonstram que crianças de várias classes sócio-econômicas tem maior sucesso em áreas como matemática, desenvolvimento vocacional e leitura quando estão trabalhando junto com seus colegas sob uma estrutura de objetivos cooperativos em vez de individualistas ou competitivos.
"A Cooperação é a força unificadora mais positiva que agrupa uma variedade de indivíduos com interesses separados numa sociedade coletiva." Haratmann
UNESCO coloca alguns Valores essenciais para a paz e uma convivência ecológica entre as pessoas: Respeitar a vida, Rejeitar a violência, Ser generoso, Escutar para compreender, Preservar o planeta, Redescobrir a solidariedade. Esses e outros valores como: união, amor, cooperação, bondade, paz, responsabilidade, organização, inclusão, ética, são trabalhados através dos jogos cooperativos e da Pedagogia da Cooperação.
Muitos dos desequilíbrios presentes na nossa sociedade decorrem de uma percepção de separação e não inter-dependência face ao exterior. Através do sistema educativo, os jovens interiorizam a separação entre o mundo humano e o mundo natural. O afastamento face ao que nos rodeia estende-se à relação com o outro, em virtude da extrema valorização do individualismo, que conduz ao exacerbar da competição para alcançar o sucesso no mercado de trabalho. Este caminho conduziu-nos à beira de um abismo. O objetivo de cada um obter o máximo lucro/bens materiais a curto prazo, está a levar a um desequilíbrio ecológico de proporções planetárias. Apesar de tanto valorizarmos a razão, continuamos a trilhar um percurso de irracionalidade, comprometendo a nossa permanência no planeta.
Os Jogos Cooperativos, ao promoverem um tipo de relação com o outro baseado na capacidade de cooperar, poderão constituir um valioso instrumento na formação do cidadão. Em lugar de um modelo de atuação em que o indivíduo está em competição com o mundo, ajuda a desenvolver uma relação com o exterior baseada no respeito e no agir com o

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