quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A ESCOLA POSSÍVEL DE MIGUEL ARROYO




Não é somente o Brasil que debate a questão de uma escola para todos. Na estrutura de classes estabelecida no mundo burguês ocidental, esta discussão arrasta-se interminavelmente desde os primórdios do ascenso da burguesia ao poder e a consequente divisão capital/trabalho e o triunfo da mais-valia. Os preceitos liberais de igualdade de condições para todos são cumpridos em seu aspecto mais perverso: no momento da cobrança de eficiência.

A maquinaria seletiva e avaliativa não estabelece desigualdades entre ricos e pobres, entre os que estão alimentados e os que não estão, resultando na exclusão pura e simples daqueles que não conseguem acompanhar o ritmo único.

EVASÃO ESCOLAR OU FRACASSO DA ESCOLA?

Miguel Arroyo
O poder público e os pedagogos responsáveis pelas políticas de educação criaram o termo "evasão escolar". É um rótulo que tem um pressuposto subjacente não muito camuflado pela ideologia.

É facilmente verificável que a evasão escolar debita na conta do aluno a responsabilidade do fracasso. Este rótulo transfere para a esfera individual e familiar a culpa da saída do aluno da escola e inocenta a própria escola. Dificilmente estes agentes falam em fracasso da escola, em inadequação da escola a um aluno que não é respeitado como classe. Miguel Arroyo fala em "classes subalternas", ou seja, as classes sociais localizadas na base da pirâmide do poder aquisitivo.

Na questão social de fundo da inexistência de uma escola única para pobres e ricos, reside um fato profundamente paradoxal; na escola, o aluno é tratado como indivíduo e no máximo como família. Suas limitações, dificuldades de aprendizagem e inadequações são suas e/ou proporcionadas pelo seu entorno. Graças a isto, uma escola pobre de conteúdos e pobre de espaços lúdicos lhe é oferecida para que se torne uma mão de obra um pouco mais qualificada.

Quando este sujeito ingressa prematuramente no mercado de trabalho, tal tratamento individual é abolido. Agora ele é tratado como classe e não é mais considerado incapaz de "viver para trabalhar", não é considerado incapaz para labutar as imensas jornadas de trabalho, ou de simplesmente reforçar o exército de trabalhadores desempregados que garante ao capital a manutenção dos baixos salários.

As questões de classe social não frequentam uma escola que se contenta em fornecer rudimentos de letras e matemática a sujeitos que se espera, não estarão mais de quatro anos nos seus bancos.

É comum ouvir-se a expressão: "É necessário partir da realidade do aluno." Ou seja, segundo esta visão, não adianta "gastar o latim" com alunos pobres, pois estes não terão condições de "assimilar" a alta cultura. Graças a esta visão redutora, os sujeitos das classes pobres são contemplados com uma escola também pobre em conteúdo, que em muito pouco servirá para mudar seu destino fatalista de classe.

Dificilmente escapará da sina de se tornar um trabalhador desqualificado, assim como foi seu pai, seu avô, etc. A visão de se trabalhar a realidade do aluno esconde no seu âmago toda uma ideologia reprodutiva da segregação de classes e erguimento de barreiras intransponíveis para a sua superação. A escola dos pobres se prepara para fornecer o mínimo necessário para que os filhos dos pobres tenham apenas a instrução suficiente para melhor servir o capital.

Nos nossos tempos está acontecendo um fato curioso. O professor normalmente estava localizado numa classe social mais abastada, era um espectador neutro diante da luta de classe e, portanto, um instrumento útil nas mãos da ideologia dominante na imposição das políticas educacionais. Agora, os professores, devido aos constantes achatamentos salariais, vêem-se cada vez mais próximos das classes sociais mais baixas e acabaram por engajar-se em lutas tão parecidas quanto àquelas em que se encontram os pais dos seus alunos pobres.

Neste contexto, torna-se insuportável para um professor empobrecido a visão de que deve preparar seu aluno para ser aquilo que seu pai sempre foi. Esta crueldade passou a fazer parte do seu dia a dia. Ele vê que nada justifica este determinismo e se prepara para despir a roupagem moral/ideológica que o levava a reproduzir dentro da escola as desigualdades sociais.

COMO FAZER DA ESCOLA CARENTE UMA ESCOLA POSSÍVEL?

Enquanto a escola para os pobres for pobre, será uma utopia a construção de uma escola possível. Miguel Arroyo menciona visitas a escolas rurais e de periferia urbana, onde a miséria das suas instalações físicas e humanas atesta a verdadeira miséria que o estado destina à educação.

Enquanto alunos forem considerados incapazes e os professores "sacerdotes" que devem fazer milagres sem quase dotação nenhuma, a escola marginal continuará à margem do processo de desenvolvimento econômico e tecnológico. A escola para as classes subalternas continua sem prescindir de uma ação forte do estado. Não há milagre que faça triunfar um modelo de escola carente para os carentes.

Por: Isaías Malta, Rosmeri Guerra, Márcia Luchese e Valdirene Spangnolo

Referências:
ARROYO, Miguel G. Da Escola Carente à Escola Possível. 6 ed. Loyola, 2003.
ARROYO, Miguel G. Repolitizar os tratos da infância e adolescência populares. Fundação telefônica. 24/07/2009. Disponível em:  Pró Menino. acesso em 02/10/2010.

Fonte: http://www.teliga.net/2010/10/escola-possivel-de-miguel-arroyo.html

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