sábado, 18 de fevereiro de 2012

A Cooperação permeando as Cinco disciplinas nas Organizações

por Mônica Teixeira
extraído da seção "Entendendo os Jogos" da edição 8 do ano I  da Revista Jogos Cooperativos.

O mundo está a cada dia mais interligado e os negócios mais complexos e dinâmicos. Uma organização hoje, necessita ter grande capacidade de adaptação à velocidade das mudanças do mundo, e para isso, é necessário que deixem de lado a cultura do controle e da obediência a padrões pré- estabelecidos para cada vez mais voltarem-se a uma dinâmica de aprendizagem e mudança. Peter Senge, Diretor do Centro de Aprendizagem Organizacional do "Massachusetts Institute of Tecnology" – MIT, escreveu o livro "A Quinta Disciplina" no qual apresenta a necessidade das organizações, cada dia mais se transformarem em organizações que aprendem para poderem crescer e sobreviver no mercado.
Senge acredita que cinco disciplinas mostram-se essenciais para a construção da Organização que aprende:
Domínio Pessoal: Através do auto-conhecimento as pessoas aprendem a clarificar e aprofundar seus próprios objetivos, a concentrar esforços e a ver a realidade de forma objetiva.
Modelos Mentais: São idéias profundamente enraizadas, generalizações e mesmo imagens que influenciam o modo como as pessoas vêem o mundo e as suas atitudes.
Visões Partilhadas: Quando um objetivo é percebido como concreto e legítimo, as pessoas aprendem não como uma obrigação, mas por vontade própria, construindo visões partilhadas. Muitos líderes têm objetivos pessoais que nunca chegam a ser partilhados pela organização como um todo. Esta, funciona muito mais devido ao carisma do líder ou às crises que unem a todos temporariamente.
Aprendizagem em Grupo: Em grupos nos quais as habilidades coletivas são maiores do que as individuais se desenvolve a capacidade para a ação coordenada. A aprendizagem em grupo começa com o diálogo; em outras palavras, começa com a capacidade dos membros do grupo para propor suas idéias e participar da elaboração de uma lógica comum.
Pensamento Sistêmico: Constitui um modelo conceitual, composto por conhecimentos e instrumentos, desenvolvidos ao longo dos últimos 50 anos, que visam melhorar o processo de aprendizagem como um todo e apontar as futuras direções para o aperfeiçoamento.
Senge(1990) focou inicialmente o indivíduo, seu processo de autoconhecimento, de clarificação de seus objetivos e processos pessoais. Em seguida, seu foco deslocou-se para o grupo e, finalmente, através do raciocínio sistêmico, para a organização. O pensamento sistêmico constitui a quinta disciplina, integrando as demais, em um conjunto coerente de teoria e prática, o que evita a visão isolada de cada uma delas.
Utilizando a idéia de modelos mentais de Senge, considerando que na atualidade o processo de aprendizagem organizacional mostra-se fundamental para as organizações, as pessoas são estimuladas constantemente a estar desenvolvendo-se e adquirindo novos conhecimentos para melhorar suas competências, o que é ótimo, pois esta é uma necessidade do ser humano. As pessoas porém, tem bloqueios e inibições, e precisam de ajuda nesse desenvolvimento, surgindo o treinamento para auxiliar nesse processo.
Mas como fazer isso de forma ecológica, eficaz e prática?
1. É importante que a aprendizagem seja divertida!
O ser humano nasce motivado a aprender, explorar o mundo e a beneficiar-se disso. Quando crianças, aprendemos jogando e explorando o mundo ao redor, o que é fundamental para um desenvolvimento normal, pois durante os sete primeiros anos de vida a personalidade básica do ser humano é estruturada e se formam a maioria das conexões ou sinapses cerebrais.
Nas organizações ainda hoje, muitas vezes confunde-se um profissional sério e responsável com uma postura sisuda e rígida. Essa postura "sisuda", atrapalha um bom QE (Quociente Emocional) pois as emoções negativas e/ou reprimidas tem o poder de perturbar o pensamento, criando uma "estática neural" e sabotando a capacidade do lobo pré-frontal de manter a memória funcional. Portanto, pessoas perturbadas emocionalmente criam deficiências nas aptidões intelectuais.
Quando o homem ri e se diverte, se liberta dos bloqueios, da seriedade paralisante, da rigidez, liberando a consciência, as emoções, o pensamento e a imaginação, que ficam disponíveis para novas possibilidades.
Hipócrates – considerado pai da Medicina, foi o fundador da teoria dos Humores e era um teórico do riso. A doutrina da virtude curativa do riso aparece em seus tratados.
Segundo Morgana Massotti, psicóloga e pesquisadora da "ciência do riso" e seus efeitos sobre a saúde, "o humor permite ao individuo explorar fatos que por obstáculos pessoais, não poderiam se revelar de forma aberta e consciente, o que permite a liberação da energia investida no problema, que então pode ser utilizada em outros pontos importantes, como por exemplo na busca de soluções. O funcionamento dos processos humorísticos é análogo aos mecanismos presentes nos sonhos, e serve de instrumento importante para lidar com conflitos e manutenção do equilíbrio físico e mental." Quando estamos livres para ver as coisas de forma diferente trabalha-se com mudança de perspectiva da realidade podendo assim transformar essa realidade e aprender com ela. Por tudo isso, os educadores modernos enfatizam mecanismos que desenvolvam e proporcionem estados de harmonia mental, alegria e diversão, promovendo o prazer de aprender utilizando brincadeiras, jogos, dramatizações, simulações, casos, trabalhos de equipe, vivências, artes plásticas e filmes, entre outros instrumentos que enriquecem a aprendizagem tornando-a mais prazerosa, favorecendo o aprendizado e a fixação do conteúdo, assim como a auto-estima dos treinandos.
2. Simulando para aprender
Segundo Winnicott, as brincadeiras, os jogos, a arte e a prática religiosa tendem, por diversos mas aliados métodos, para uma unificação e integração geral da personalidade. As brincadeiras servem de elo entre a relação do individuo com a realidade interior e por outro lado, a relação do individuo com a realidade externa ou compartilhada.
Maria Helena Matarazzo coloca, que existem dois tipos de ensinamentos: os Ensinamentos da Escola e os Ensinamentos da Vida, sendo que estes últimos são os mais importantes porque é onde praticamos e realmente aprendemos.
Nosso cérebro aprende por ensaio, repetição e velocidade, portanto ensaiar e simular faz parte da aprendizagem. Segundo a PNL (Programação Neurolingüistica) para aprender efetivamente algo é preciso ver, ouvir e sentir e com isso mais uma vez a simulação torna-se importante pois o cérebro não distingue o real do virtual.
Quando simulamos temos a oportunidade de vivenciar determinadas experiências obtendo insights que certamente irão auxiliar na aprendizagem e torná-la mais efetiva. Quando simulamos, os bloqueios desaparecem e ficamos mais livres para sermos quem realmente somos atuando como parceiros e não como concorrentes.
3. Levando em conta a bagagem
No passado, o professor era o detentor do saber e o aluno como uma xícara vazia onde o mestre depositaria algumas gotas de sua sapiência. A própria palavra aluno significa sem luz (a = não + luno que vem de lumini = luz).
Hoje sabemos que todos trazem uma bagagem consigo independente de idade, sexo, origem, escolaridade, etc...todos somos mestres-aprendizes. Principalmente quando lidamos com adultos, é essencial que essa bagagem seja respeitada pois é com ela que o grupo ou a organização vai construir sua personalidade e seu conhecimento.
4. Aprender é um ato social
O homem é um ser social. Já disse Jung: "Nenhum homem é uma ilha, fechado em si mesmo, mas sim um continente, uma parcela da terra principal". Precisamos interagir e trocar, por isso, a melhor forma de aprendizagem é a que implica na interação. Aprender é eminentemente um ato de socialização, não é uma postura individualista, mas organizacional. Através da troca de idéias e informações onde as pessoas estão no mesmo nível, elas entram em contato com outros pontos de vista e diferentes percepções do tema, podendo assim crescer e chegar a melhores idéias, assim como procuram entender o ponto de vista de outras pessoas, o que estreita laços e amplia a possibilidade de relações de maior confiança. Esse tipo de aprendizagem oferece aos participantes a oportunidade de ampliar sua visão além dos limites da perspectiva pessoal, canalizando o potencial das mentes envolvidas para que a inteligência do conjunto seja maior que a individual.
5. Os Jogos Cooperativos nas organizações
Os Jogos Cooperativos podem auxiliar no desenvolvimento das 5 disciplinas necessárias para uma organização que aprende e contemplam todo esse contexto importante para melhores resultados em treinamentos comportamentais, pois quando jogamos e superamos desafios em grupo estamos além de aprendermos juntos, exercitando a cooperação e melhorando tanto nosso QI quanto nosso QE. Segundo Piaget "O trabalho em grupo é a forma mais interessante para promover a cooperação, é fator fundamental para a progressão intelectual". Nos Jogos Cooperativos ocorre a união da cooperação e da autonomia, pois o grupo tem consciência das regras e consciência da razão de ser dessas regras e a partir disto vai buscar vencer o desafio comum, superando-se o desafio e não alguém, utilizando todos os recursos existentes no grupo que ajudem nessa tarefa. Com isso, além da aprendizagem em grupo e do exercício da Cooperação, cada membro tem a oportunidade de trabalhar o domínio pessoal, ou seja, a maestria pessoal, encarando seus colegas como aliados e utilizando suas competências da melhor forma possível em busca da excelência e do objetivo comum.
Muitas vezes, manter o compromisso com a equipe e o entusiasmo com os objetivos não é uma tarefa fácil. Nas organizações, muitas pessoas começam empenhadas e vibrantes mas desanimam quando surgem problemas ou frustrações, principalmente quando sentem-se sozinhas e incapazes de desempenhar algo que está sendo exigido sem ajuda e estímulo. Nesses momentos a Cooperação tem papel fundamental no grupo, onde este individuo pode encontrar motivação, e o grupo ajudará esse integrante a superar seus bloqueios e continuar no jogo, pois a inclusão e o sucesso compartilhado fazem parte da filosofia da Cooperação.
Olhar para as coisas de forma diferente também é muito importante nos Jogos Cooperativos, onde desde o princípio os parâmetros são outros, o que possibilita quem joga experimentar novas possibilidades e refletir sobre o que é mais ecológico e interessante em termos de resultados para a equipe, a organização, a sociedade e o meio ambiente. A medida que o grupo caminha para a solução dos desafios, necessita da riqueza da diversidade na equipe para analisar o cenário, questionar, abstrair e encontrar estratégias que solucionem o problema testando as várias hipóteses que surgem da troca entre os participantes.
Nos Jogos Cooperativos pode-se exercitar também o lidar com situações difíceis, através da simulação que proporciona aprendizagem e mudança profunda com risco controlado, de forma divertida e prazerosa na maior parte das vezes.
No CAV (Ciclo de Aprendizagem Vivencial) ou seja, na análise do jogo, vamos trabalhando o raciocínio sistêmico, através das inter-relações que o grupo vai construindo, podendo buscar uma visão global do trabalho e do tema de aprendizagem (teoria) relacionando-o com a prática do jogo e do dia a dia. Esta visão geral possibilita buscar soluções para problemas mais complexos do trabalho e da organização através da mudança de mentalidade. Os Jogos Cooperativos afetam e alteram a forma como a pessoa vê a si mesma e o mundo e com isso pode alterar os resultados organizacionais pois a pessoa passa a aprender e a mudar sua própria realidade visando o bem comum.

Para saber mais:

Senge, P. A Quinta Disciplina: a Arte e a Prática da Organização que aprende. São Paulo: Best Seler, 1998
Senge,P.; Kleiner,A.; Roberts,C.; Ross,R.; Smith,B.;

A Quinta Disciplina - Caderno de Campo: Estratégias e Ferramentas para construir a organização que Aprende. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1997.

Massotti, M. Soluções de Palhaços - Transformações na realidade Hospitalar - Ed. Palas Athena.

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